quarta-feira, 26 de setembro de 2018

O vitral e os novos olhares

E o Facebook me trouxe este texto (publicado há um ano) nas recordações de hoje... Decidida a postagem! (Cá para nós, quando eu estou inspirada é cada textão lindo né?)

Se eu tivesse que definir este ano com poucas palavras eu escolheria apenas duas: novos olhares. Dos novos olhares surgem novas percepções, conceitos, significados, atitudes, sentimentos... Algumas vezes estes novos olhares vêm de outros olhos que não os seus. Um exemplo é este vitral. Passei anos subindo essa escada e entrando por aquela porta ali no cantinho da foto para acessar meu local de trabalho. Foram anos sem perceber o vitral. "Como assim, Conça?" "É impossível não ver o vitral". É impossível não ver, mas é perfeitamente possível não perceber. Eu não percebia. Até o dia em que, conversando com um colega sobre fotografia, ele me mostrou uma imagem que fez do vitral, com o celular mesmo. Pelo olhar dele eu percebi as cores, os detalhes, a beleza, a poesia, o valor histórico de um objeto que estava ali o tempo todo ao alcance da minha visão. 

O tempo passou e já não preciso mais subir essa escada e nem entrar por aquela porta diariamente, porque estou em outro setor. Hoje, entretanto, desci pelas escadas e percebi novamente o vitral. Não foi uma percepção como a primeira, veio como uma metáfora. Eu fui o vitral para mim mesma durante muito tempo. Eu me permitia ser como a porta, objetiva, funcional, de utilidade imediata, no canto da foto. Hoje eu sou o vitral, no centro, em destaque. 

Esta nova percepção trouxe à lembrança aquela conversa, aquele colega querido e tudo que aprendi com ele na pouca convivência que tivemos. Não foram lições técnicas, foram lições de vida. Hoje ele já está aposentado e há tempos não o vejo, mas carrego comigo os ensinamentos que ele tão generosamente, naturalmente e verdadeiramente compartilha. Conhecimento só multiplica quando a gente divide, seja ele qual for - uma teoria matemática, uma norma gramatical ou uma experiência que vivemos. Gratidão resume, admiração define. 


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terça-feira, 18 de setembro de 2018

Reflexões sobre o dia em que Gustavo Borges curtiu uma publicação minha no Instagram

Eu fui um bebê fofo e a (falta de) modéstia não me impede de sair falando isso. Eu era daqueles bebês risonhos que parecem uma boneca (ainda mais que tenho o tom de pele considerado dentro do "padrão de beleza", mas a gente deixa a questão do racismo para um outro momento). Há alguns dias eu postei uma foto de quando tinha aproximadamente 18 meses de vida no Instagram. A publicação recebeu várias curtidas. Duas delas são muito especiais para mim, mas falarei apenas de uma. Pela primeira vez na vida, uma celebridade curte uma foto/publicação minha nas redes sociais. Quem? Quem? Quem? Gustavo Borges, ex-atleta olímpico da natação. 

E por que estou trazendo isto aqui? Primeiro porque nos primeiros cinco minutos eu fiquei me achando uma celebridade também. Segundo porque depois deste período os meus pensamentos foram:
  1. Ele não é "tão celebridade" assim. Depois que encerrou a carreira sumiu da mídia. 
  2. Pode ser uma estratégia para aumentar o número de seguidores e, consequentemente, aumentar o faturamento comercial com anúncios. 
E isto me levou a duas conclusões.  Conclusão número 1: muitas vezes passamos muito tempo tentando entender os porquês de determinada atitude de alguém. Gustavo Borges curtiu minha foto no Instagram. Ponto. Qual a razão disso? São infinitas as possibilidades, talvez haja mais de uma resposta certa e... tcharam! A resposta não está comigo! Por que não curtir o momento, apenas? que diferença faz saber se foi porque ele realmente gostou da foto, se clicou sem querer, se quer mais seguidores? Acho que isso vale para (quase) tudo na vida. Conclusão número 2: tendemos a desvalorizar elogios e acredito que parte disso está justamente no fato de que elogiar "saiu de moda" na contemporaneidade. O que é uma curtida no Instagram senão dizer "gostei" ou "legal"? É um elogio, a meu ver. Temos a opção de agradecer e seguir em frente, mas o que fazemos com os elogios? Desvalorizamos. Da mesma forma que quando alguém elogia uma roupa a gente fala algo como "custou 20 reais na C&A" ou alguém elogia nosso cabelo e a gente responde com "está sujo". 

Moral da história: não fique procurando motivos para baixar sua autoestima!
Moral da história 2: aceite os elogios e também os distribua de forma sincera. Acredite, a vida fica melhor assim. 

segunda-feira, 17 de setembro de 2018

terça-feira, 11 de setembro de 2018

11 de setembro

Foi há 17 anos, mas não tem como esquecer aquela manhã de setembro. O tempo apaga alguns detalhes, mas não as sensações. Lembro que, por alguma razão, eu estava em casa e, por alguma outra razão, a televisão estava ligada, mas minha atenção não estava voltada para as imagens exibidas. Olhando de relance, vi um prédio pegando fogo e acreditava ter ouvido algo sobre os Estados Unidos. O cérebro logo deduziu "incêndio nos Estados Unidos, tomara que não haja vítimas".  A cobertura da imprensa continuava, mas creio que era alguma das histórias de Agatha Christie que me fascinava então (acredito que foi nesta época que comecei a me encantar com esta autora e raríssimas coisas eram capazes de distrair minha atenção quando começava a ler algum de seus livros - ainda  hoje é assim, mesmo quando não é primeira leitura!). 

Em um momento de pausa no que eu estava fazendo (seja lá o que fosse) eu voltei os olhos para a televisão e vi a imagem do avião invadindo uma das 'torres gêmeas", em Nova York. Eu já não lembrava do prédio em chamas que havia visto e aquilo me pareceu tão surreal que pensei se tratar de algum trailer de filme. Roteiro criativo - pensei, em fração de segundos. Voltei minha atenção para ver o nome da película, data de estreia e... Era vida real!!!!!! Inacreditável!!!!! Se alguém me contasse, eu duvidaria, mas estava vendo com meus próprios olhos (ainda que pela televisão). 

Naquela manhã de setembro, seres humanos sequestraram aviões com outros seres humanos a bordo e chocaram este mesmo avião contra um par de arranha-céus onde outros seres humanos estavam. Milhares de mortos, milhares de feridos e muita destruição foi o saldo de uma tragédia causada porque seres humanos não viam os semelhantes como tal. E não estou falando dos que sequestraram os aviões, mas dos que deram causa a isso (não justifica, apenas explica) com anos e anos de neoliberalismo predatório. Uma ferida com cicatrizes para ambos os lados. 

Aprendi nas aulas e livros de história que grandes acontecimentos marcam inícios de novas eras. Naquele 11 de setembro eu tive a sensação de que o século XXI estava começando de verdade. Somente daqui a muitos anos chegaremos a um consenso sobre ser o início de uma nova etapa e a nomearemos, mas o fato é que hoje, novamente um 11 de setembro, eu me peguei pensando em toda a onda de violência, intolerância e ódio que o ataque às torres gêmeas começou e/ou agravou. Em um momento em que um candidato com discurso parecido a estes fatores motivacionais do atentado ocupa o primeiro lugar nas pesquisas de intenção de voto para presidente da República no Brasil, meus sentimentos não podem ser outros senão a preocupação e o medo. 

A história já nos mostrou as consequências destes pensamentos nefastos. E não há lados vencedores em uma guerra de ódio. Conhecer os erros do passado é importante para afastar os erros do presente e ter um novo futuro. Por sorte Hitler não sabia disso e não aprendeu com os erros de Napoleão Bonaparte (invadiu a Rússia no inverno e também perdeu a guerra para o "General Mau Tempo"), mas não podemos contar sempre com o acaso, com a providência divina. Precisamos fazer a nossa parte e começa com achar que política é coisa para nós sim. Voto é coisa séria. Muito séria.