Há quase uma semana estou de idade nova. Fazer aniversário é fechar um ciclo e começar outro, pelo que dizem. Mais uma primavera, de fato, já que estamos na estação mais perfumada do ano. A mais romântica, talvez? Adoro flores e as admiro desde a minha tenra idade. Vários ciclos depois isso não mudou. Desde que comprei minha primeira câmera fotográfica, aos dezesseis anos, tive a ideia de fazer um ensaio fotográfico com as flores que enfeitam a cidade nesta época do ano. Já tinha até o nome do ensaio: flores urbanas. Todos os anos, eu planejava os cliques em parques, canteiros, jardins, varandas, seja lá onde fosse que tivesse uma flor. De qualquer tamanho, de qualquer espécie, de qualquer cor.
Eu pensava em fazer uma exposição das fotos, não para chamar a atenção sobre o meu (suposto) talento para a fotografia, mas para chamar a atenção das pessoas para a beleza singela das flores que vivem na cidade. Certo, confesso que também pensava em inscrever a mais linda das fotos em concursos e ganhar prêmios de fotografia, mas permito-me cinco minutos de vaidade intelectual. O fato é que os anos foram passando e nada fiz. A cada primavera, uma desculpa diferente, um esquecimento, um obstáculo qualquer e zero cliques.
Então, veio 2017. Um ano mágico, especial, diferente, divisor de águas, revolucionário, inesquecível. Ele guarda algumas coincidências com 2010, outro ano que merece esses adjetivos na minha existência. Entretanto, 2017 foi muito mais intenso. Quando 2010 começou eu estava vestindo rosa e branco e tinha uma sensação de que seria um ano importante para mim. E foi. De muito crescimento, de muito aprendizado, de muitas transformações. Pode pegar tudo que escrevi sobre 2010 e mudar o ano para 2017 porque é exatamente igual. Com mais intensidade, como eu falei, mas igual em conceito, em essência.
Não poderia ser em outro ano a realização do ensaio fotográfico. E desta vez, sem planejamento. Apenas foi. Bem no estilo Glauber Rocha, "uma câmera na mão e uma ideia na cabeça". Quando vi, já tinha cinco ou seis fotos publicadas no Instagram (digamos que modernizei a exposição, e o nome ficou "primavera urbana", a hashtag que usei). O celular facilita as coisas, ainda mais quando se tem uma câmera tão boa quanto a do meu.
E o que fica de tudo isso? Eu vejo várias lições. Primeiro que aniversário pode ser um encerramento de ciclo, mas eles estão aí começando e terminando o tempo todo, afinal, são ciclos. Fechá-los é fundamental, principalmente quando envolvem coisas que nos impedem de seguir adiante. Segundo é que por mais que eu acredite que tudo tem seu momento certo para acontecer, é preciso vencer os "bichinhos" da procrastinação, da preguiça e do medo de errar. Eram eles, o tempo todo ali a me sabotar para a não realização do ensaio fotográfico.
Outra lição que vejo vem da natureza. Uma metáfora, porque ela não tinha aparecido ainda neste texto. No meio de muito concreto, poluição e pressa, a natureza continua trazendo as cores, a alegria, a vida. E faz isso mesmo que ninguém esteja olhando, porque é da essência dela ser assim. Precisamos nos inspirar neste exemplo e resistir à falta de amor e de empatia que se alastra rapidamente entre a humanidade. A maioria de nós é bom sim e podemos mudar a realidade em que vivemos como as flores resistem ao progresso e perfumam nossos dias.
E um texto que começou falando de aniversário, tem que terminar falando de aniversário (certo, não é regra, mas eu quero assim). Em tempos de redes sociais e de comunicadores instantâneos, ligação é prova de amor, como um diz um "meme" que circula por aí. Foram muitas mensagens neste aniversário e, decididamente, amei e amo esse carinho. Recebi alguns amigos e foi uma tarde super agradável, para usar o termo da moda: plena. Assim também eu me senti e por mais que tudo tenha contribuído para que este dia tenha sido especial, um detalhe fez a diferença. Entre as felicitações, uma veio em forma de ligação. E justamente a mais especial de todas porque era a mais esperada, a mais desejada. A felicitação que me trouxe a certeza de que sou importante para quem ligou.
O capitalismo nos ensina que as palavras que valem são as que estão escritas, porque as faladas o vento leva. Será mesmo? Sendo assim, as palavras que vieram em redes sociais ou comunicadores instantâneos são mais importantes, melhores ou mais valiosas do que as acompanharam um abraço ou as ditas por telefone? Não, eu não penso assim. As palavras importantes são aquelas que carregam sentimentos. Nesta ligação eram dois corações conversando, e quando é assim palavras nem são necessárias.